Relação entre competência moral e espiritualidade em estudantes de medicina de uma instituição de ensino da cidade do Recife

Abstract

INTRODUÇÃO: No curso médico, estudantes de medicina iniciam a faculdade como idealistas, mas muitos consideram que saem frios e indiferentes e este é o maior desafio da educação médica. Estudos mostram que existe uma involução da competência do julgamento moral em estudantes de medicina ao longo do curso. A medicina atual, entretanto, busca caminhos para o tratamento mais integral dos pacientes, deixando de ter o modelo biológico exclusivo para também ser complementado pelos modelos psicológico, social, ecológico e espiritual. A espiritualidade vem sendo cada vez discutida no meio acadêmico. Pesquisa com estudantes de medicina mostrou que a implementação de um curso sobre espiritualidade favoreceu dentre outros aspectos a oportunidade para auto-reflexão e reflexão sobre princípios universais. Então, questiona-se se espiritualidade estaria envolvida na construção, modificação e consolidação do juízo moral dos estudantes de medicina. OBJETIVO: Avaliar a relação entre a competência moral e a espiritualidade dos estudantes de medicina. MÉTODOS: Este estudo é descritivo tipo corte transversal. Todos os estudantes matriculados no ano de 2014 no curso médico da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) foram convidados. A coleta de dados ocorreu de agosto a setembro de 2014, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da FPS. A coleta foi realizada por email, através do software limesurvey, contendo o TCLE – pré-requisito para responder aos instrumentos - e três instrumentos breves: questionário sóciodemográfico , o teste de competência moral de George Lind e a escala de espiritualidade de Pinto e Pais-Ribeiro. Foi realizada análise estatística de cada questionário respeitando suas particularidades e realizada as correlações dos dados encontrados através do software STATA na versão 12.0. RESULTADOS: As respostas de 121 estudantes de medicina foram analisadas. Destes 71.1 % corresponderam ao gênero feminino. A média de idade do grupo estudado foi de 22,5 anos. Quanto a religião, 89,3% afirmaram ter alguma religião, sendo 52,1% católicos. Observou-se que houve associação estatisticamente significante quando relacionado ao gênero feminino, condição de ter religião e ter pais médicos com espiritualidade elevada. Após análise multivariada a condição de ter religião manteve-se estatisticamente significativa e as demais mantiveram-se limítrofes, reforçando tendência da associação. O escore C manteve-se crescente ao longo dos anos de graduação de medicina. E na relação da espiritualidade com a competência moral, estudantes com baixa espiritualidade apresentaram tendência a ter um maior escore no MJT, com escore mediano de 15,7 pontos para os estudantes classificados com baixa espiritualidade e de 9,9 pontos entre aqueles que tem espiritualidade elevada. CONCLUSÃO: Estudantes com maior espiritualidade apresentaram tendência de competência moral menos elevada. Contudo, o questionário de espiritualidade está intricado com dimensões religiosas, que tendem a limitar o desenvolvimento da competência moral. Construção de escalas que avaliem a espiritualidade propriamente dita é necessário, assim como estudos que avaliem competência moral e espiritualidade com maior número de estudantes, em especial dos dois últimos anos. Uma vez que a espiritualidade é a dinâmica de aproximação com o eu profundo (o autoconhecimento),a avaliação da mesma poderá auxiliar o desenvolvimento moral dos estudantes, para vivência profissional e para vida.