Os efeitos do teletrabalho sobre a saúde mental no contexto da pandemia covid-19

Abstract

RESUMO Cenário: O Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco-TJPE vem buscando políticas institucionais na prevenção do adoecimento mental de seus magistrados e servidores, objetivando atender sua missão em fazer Justiça, de forma célere, acessível e efetiva, no âmbito estadual, contribuindo para a pacificação social. Em consonância com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em sua Política de Atenção Integral à Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário relata que a quarta causa mais comum de ausências são os transtornos mentais e comportamentais (categoria CID-F). No ano de 2016, o TJPE instituiu o teletrabalho integral. No ano de 2020, estabeleceu o trabalho em Home Office visando atender o sistema de saúde como um dos principais protocolos de segurança utilizados para conter a disseminação do vírus SARS-CoV-2 e assim o avanço da pandemia. Objetivo: Problematizar os efeitos do teletrabalho na saúde mental dos servidores do Tribunal de Justiça de Pernambuco no contexto da Pandemia COVID-19. Método: Estudo de natureza qualitativa, por meio da técnica de entrevistas narrativas individuais. Foram entrevistados servidores que integraram a modalidade de teletrabalho ou Home Office no período compreendido entre março de 2020 e dezembro de 2021, e que estiveram em licença médica. As entrevistas foram analisadas a partir do aporte teórico e da arqueogenealogia e diretrizes cartográficas Foucaultiana. Aspectos Éticos: O estudo foi realizado após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Faculdade Pernambucana de Saúde - FPS e seguirá a resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resultados e Discussão: As narrativas evidenciaram que o teletrabalho carrega marcas da biopolítica vigente: ao instigar no indivíduo a gestão sobre a vida e a responsabilização pela saúde, reproduz formas naturalizadas de domínio e poder. A sensação de vigília e pressão por produtividade são recorrentes na experiência dos participantes, os resultados identificados nas experiências narradas revelam os efeitos como cada um passou a se subjetivar, transformando e ressignificando diversos contextos de vida, diante dos conjuntos de técnicas e mecanismos de poder das práticas de governamentalidade de sua instituição. Como efeitos, as narrativas revelaram uma desorientação emocional como o sentimento de solidão, esgotamento mental, pânico, ansiedade e depressão, contudo, trouxe-lhes também perdas de capacidade laborativa, funções gerenciais, lotações e conflitos familiares. Contudo, estes efeitos não foram apenas sentidos de uma forma negativa, eles operaram também produtivamente, todos produziram saberes a partir destas relações de poder. Considerações Finais: as problematizações feitas a partir das experiências narradas evidenciam a necessidade das Instituições como organismos de produção de poderes disciplinares, de repensar sobre uma postura de ressignificação de atitudes, criar mecanismos na obtenção de minimizar os efeitos negativos em seus servidores. Implementação de práticas mais holísticas, formação de líderes de teletrabalhadores “Líderes sem fronteiras” e implementação de projetos de acompanhamento de servidores que se encontram em licenças médicas psiquiátricas, dentro de uma visão sistêmica e interdisciplinar. Palavras-chave: Foucault; teletrabalho; saúde mental; governamentalidade; cuidado-desi.