Qualidade de vida em mulheres indígenas da etnia Xukuru na fase do climatério em Pernambuco

Abstract

Cenário: As alterações no ciclo feminino durante o climatério ultrapassam os sintomas clínicos que podem comprometer a qualidade de vida. Nesse contexto, as mulheres indígenas compõem uma parte dessa população culturalmente diferenciada que através das política públicas de saúde resultou em melhor assistência e, consequentemente, no aumento da expectativa de vida, permitindo esse público passar por essa fase. Objetivo: 1) Analisar a qualidade de vida em mulheres indígenas na fase do climatério da etnia Xukuru em Pernambuco; 2) Elaborar um podcast informativo para mulheres indígenas e relatório técnico para gestão da saúde indígena em Pernambuco. Métodos: Estudo estruturado em duas etapas. Na primeira, estudo transversal desenvolvido com mulheres indígenas da etnia Xukuru do Ororubá do município de Pesqueira, Agreste de Pernambuco. A pesquisa aconteceu entre outubro de 2019 e fevereiro de 2022, com uma amostra de 153 participantes, tendo como critérios de inclusão ser indígena da etnia, residir na aldeia e estar no climatério (faixa etária de 40 a 65 anos), excluindo-se as que possuíam sequela de AVC, demência e distúrbio mental severo. Em seguida, foram aplicados o formulário sociodemográfico e o Questionário de Saúde da Mulher. O questionário contém 37 questões que avaliam nove domínios: depressão, sintomas somáticos, memória/concentração, sintomas vasomotores, ansiedade/tremores, comportamento sexual, problemas de sono, sintomas menstruais, e atratividade. Os domínios foram avaliados em quatro escalas pontuais (1-sim, sempre; 2-sim, algumas vezes; 3-não, não muito; 4-não, nunca). O questionário utiliza como ponto de corte escores médios maiores que 2 para considerar comprometimento dos domínios. Na segunda etapa, foi elaborado um podcast e um relatório técnico com base nos achados da primeira fase. O estudo teve início após a aprovação do CEP e CONEP. Resultados: As mulheres apresentam média de idade 51,3 (DP± 6,3) anos. Quando avaliado o domínio depressão, observou-se que 83 (54,2%) da amostra estavam tristes/infeliz, 90 (58,8%) estavam mais irritadas. No domínio sintomas somáticos, identificou-se que 95 (62,1%) apresentavam dor de cabeça, 99 (64,7%) estavam cansadas, 120 (78,4%) relataram dor nas costas e membros. No domínio memória, detectou-se 83 (54,3%) estavam mais chata/implicante, 87 (56,9%) apresentaram dificuldade de concentração, 96 (62,7%) relataram memória ruim. No domínio sintomas vasomotores, observou-se que 87 (56,9%) apresentaram fogachos, 65 (42,5%) declararam aumento dos suores noturnos. No domínio ansiedade/tremores, identificou-se que 82 (53,6%) estavam mais ansiosas, 98 (64%) apresentaram palpitação, 97 (63,4%) estavam mais tensa/nervosa. No domínio comportamento sexual, verificou-se 66 (43,1%) tiveram perda de interesse pelas atividades sexuais, em relação ao domínio problemas do sono, detectou-se que 102 (66,7 %) acordavam no meio da noite e dormiam mal o resto dela. No domínio sintomas menstruais, observou-se que 59 (38,6%) apresentavam seios doloridos ou desconfortáveis, 64 (41,8%) relataram cólicas ou desconfortos abdominais. No domínio atratividade, identificou-se que 125 (81,7%) sentiam-se cheia de vida e empolgada. Para cada domínio foi realizado a média: depressão (1,46), sintomas somáticos (1,69), memória/concentração (2,19), sintomas vasomotores (1,49), ansiedade/tremores (1,59), comportamento sexual (1,99), problemas do sono (1,62), sintomas menstruais (1,41), atratividade (1,54). No podcast elaborado com formato de áudio e abordagem informativa, foi definido o que é o climatério, os sintomas e uso da medicina tradicional indígena no controle das queixas. Já para os gestores em saúde foi desenvolvido um relatório técnico para auxiliar no planejamento das políticas de saúde indígena. Conclusão: Este estudo apontou que ao analisar a qualidade de vida desse público no climatério foi identificado o comprometimento no domínio memória/concentração, bem como uma atenção maior para o domínio comportamento sexual. Palavras-chaves: qualidade de vida; saúde de populações indígenas; climatério; saúde da mulher.