Motivação intrínseca de preceptores do curso de medicina em hospital no nordeste do Brasil: um estudo de corte transversal

Abstract

Introdução: no cenário da preceptoria clínica, estratégia importante para aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes exigidas para a formação médica, a motivação do preceptor propiciará efetividade na ação, uma vez que se associa à melhor aprendizagem, desempenho e bem estar. Entre os princípios teóricos para fundamentar estratégias de estímulo a motivação está a Teoria da Autodeterminação, que possui como pilares três necessidades psicológicas básicas: a autonomia, competência e estabelecimento de vínculos interpessoais. Objetivo: identificar a motivação intrínseca baseada na Teoria da Autodeterminação em médicos atuantes no cenário de preceptoria clínica e analisar fatores associados. Método: estudo transversal com componente analítico, envolvendo médicos preceptores das enfermarias e ambulatórios das áreas de Pediatria, Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, realizado durante o período entre novembro de 2017 a junho de 2019, sendo a coleta de dados realizada entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019. Para a coleta das informações foram utilizados o Inventário de motivação intrínseca e questionário para caracterização sociodemográfica e acadêmica dos preceptores. O inventário é composto por 45 itens, distribuídos em sete subescalas: interesse/prazer, competência percebida, esforço/importância, pressão/tensão, percepção da escolha, valor/utilidade e integração (relacionamento). Trata-se de escala, tipo Likert com sete opções de resposta variando desde “Não verdadeiro”, “Algo verdadeiro” até “Muito verdadeiro”. A análise do instrumento foi feita por meio da média aritmética do conjunto das respostas compondo o escore médio geral e o escore médio por subescala. Para a análise do escore medio geral foi considerado o seguinte ponto de corte para a definição dos subgrupos de comparação: ≤5,6 e >5,6. Esse ponto de corte foi definido durante a análise dos dados ao encontrar alta motivação entre os participantes. Foi optado por comparar o grupo com inferior ou igual motivação a média (5,56) com o grupo com motivação superior a média. A partir daí, definiu-se uma gradação considerando os seguintes pontos de corte para subescalas: ≤ 3,0 (não motivado), > 3,0 e ≤ 4,0 (motivação baixa), > 4,0 e ≤ 5,0 (motivação moderada), > 5,0 e ≤ 6,0 (motivação alta) e > 6 (motivação muito alta). A verificação da confiabilidade do instrumento foi realizada por meio do coeficiente de Alfa de Cronbrach, considerando como aceitáveis valores acima de 0,70. Para identificar possíveis fatores associados à motivação intrínseca na atividade de preceptoria, foi realizada a análise univariada e, em seguida, multivariada de Poisson e a diferença de medianas com o teste de Mood. O nível de significância considerado foi < 5,0%. A pesquisa obedeceu aos critérios éticos da Resolução CNS 510/2016. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do IMIP com o CAAE: 79769717.0.0000.5569. Resultados: os preceptores no geral se mostraram com alta motivação (escore médio geral 5,56) e, na análise por subescala, com muito alta motivação no interesse/prazer e no valor/utilidade (escore médio por subescala 6,24 e 6,39 respectivamente). Na subescala pressão/tensão foi observado um escore medio de 2,33 que pelo sentido da colocação dos itens indicou percepção de baixa pressão e tensão na realização da tarefa. Nas subescalas competência percebida, esforço/importância, percepção da escolha e relações, as motivações foram altas (escore médio por subescala 5,61; 5,56; 5,71 e 5,72 respectivamente). Não foram observadas associações entre as variáveis da condição sociodemográfica e acadêmica estudadas e a motivação. Conclusões: os profissionais pesquisados se mostraram motivados para a realização da preceptoria e apesar dos achados positivos, ressalta-se a importância da implementação permanente de estratégias de motivação capazes de promover a autonomia, o desenvolvimento da competência e adequadas relações interpessoais.