Conhecimentos e práticas de docentes e discentes sobre medicina complementar na formação médica

Abstract

RESUMO Introdução: A Medicina Alternativa ou Complementar, também conhecida como medicina tradicional, é reconhecida como fazendo parte do patrimônio da cultura universal. No Brasil, a provocação gerada pelo Sistema Único de Saúde, com sua diretriz, dentre outras, de atendimento integral, desafia o profissional a buscar soluções e adequações para múltiplas realidades. Para operacionalizar tais ações, ensinar ao discente de medicina que existem várias formas de compreender e cuidar do sofrimento humano por meio de diálogo entre as matrizes curriculares e a construção do conhecimento do futuro médico se faz necessário. Objetivo: Analisar os conhecimentos e práticas sobre medicina complementar na perspectiva dos discentes e docentes de medicina. Método: Estudo de natureza qualitativa, realizado no período de abril a novembro de 2023 em uma faculdade especializada em ensino na saúde, em que participaram discentes e docentes de medicina dessa instituição. O número de participantes foi determinado pelo critério de saturação de conteúdo. Para coleta dos dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas e questionário para composição do perfil sociodemográfico dos participantes. Os resultados referentes ao perfil sociodemográfico foram quantificados e apresentados na forma de texto para discussão, e os referentes a entrevista foram transcritos, analisados e interpretados por uma abordagem qualitativa, que avalia o nível da realidade que não pode ser quantificado, construindo a base da discussão. A Pesquisa teve início após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Tiradentes, atendendo aos postulados da resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde, sob CAAE número 67479723.6.0000.8727. Resultados: O estudo resultou em dois produtos: um artigo científico a ser submetido em revista de ensino médico, buscando dar visibilidade aos resultados encontrados, e um produto técnico educacional em formato de relatório técnico, a ser entregue para a instituição de ensino superior, campo da pesquisa, visando sugerir a inserção de conteúdos relacionados a medicina complementar na grade curricular, na forma de disciplina e/ou oficinas. Participaram da pesquisa 44 sujeitos, sendo 30 discentes e 14 docentes. A idade dos docentes variou entre 33 e 58 anos, e, entre os discentes, variou entre 18 e 29 anos. Tal discrepância etária entre os discentes se deu pela presença de um grupo bastante heterogêneo, com alguns, inclusive, já em sua segunda graduação. Com relação ao sexo, obtivemos participação mais significativa de docentes e discentes do sexo masculino, perfazendo um percentual de 59,09% dos entrevistados. No que concerne ao período em que o discente estava matriculado, obteve-se respostas de participantes entre o 3º e o 8º período do curso. Já no tocante ao tempo de formação dos docentes, observou-se que foram arguidos educadores com 5 a 37 anos de formação médica, e de 3 a 20 anos de atuação como docentes. Da análise temática realizada emergiram 4 categorias: 1. O que se pensa sobre medicina complementar, em que se notou uma lacuna de conhecimento sobre o assunto, principalmente do corpo discente, além de uma preocupação quanto a legitimidade de suas práticas; 2. Diferenças entre medicina convencional e a medicina complementar, momento no qual enfatizou-se visão de que esta complementa aquela, e relacionaram, muitas vezes, à possibilidade de tratamento não medicamentoso das enfermidades tratadas com a medicina complementar; 3. Sobre o acesso do docente médico e do discente às informações referentes a Medicina Complementar, quando o corpo discente referiu não ter conhecimento formal sobre o tema, os docentes relataram que o obtiveram tanto através da residência médica, quanto através da “proatividade” em conhecer sobre o assunto; 4. Conhecimentos acerca das Práticas Integrativas, que levou a constatação de que tanto discentes, quanto docentes, pouco sabem das possibilidades trazidas pelas Práticas Integrativas e Complementares, citando apenas o uso de chás (fitoterapia), acupuntura, auriculoterapia, florais e homeopatia, evidenciando um diminuto conhecimento das práticas possíveis e autorizadas pelo Sistema Único de Saúde. Apesar de algumas respostas serem distintas entre os grupos de docentes e discentes, muito justificado pelo tempo de imersão no mundo médico, aprofundar o conhecimento sobre a Medicina Complementar e as Práticas Integrativas e Complementares se faz necessário, uma vez que só se atingirá a sonhada Integralidade no atendimento do indivíduo, quando, sobre este, for lançado um olhar mais holístico, completo e respeitoso sobre seu corpo, contexto e história. Conclusão: Observou-se que o conhecimento do profissional e do discente sobre Medicina Complementar e suas Práticas Integrativas e Complementares, assim como sua aplicabilidade, ainda são incipientes e carecem de reconhecimento, divulgação e aprofundamento, durante a formação médica. Diante dos resultados é possível sugerir a inserção de conteúdos na grade curricular na forma de disciplina e/ou oficinas para que, ao longo do processo de formação acadêmica do médico, aconteça sua aplicação, contemplando esse segmento da interprofissionalidade, necessário para um atendimento integral do paciente. Importante ainda ressaltar que estudos futuros sobre a temática são necessários, suscitando um debate de cunho educativo sobre a importância da medicina complementar na graduação médica e de que forma tal ação edificaria os futuros profissionais em saúde. Palavras-chave: Medicina Complementar e Integrativa, Terapias Complementares, Ensino, Educação Médica.