Pensar-agir-sentir a maternidade – A Gestalt-terapia na prática perinatal

Abstract

Introdução: Revisitar a origem de uma abordagem psicológica, e a construção de uma psicoterapia perinatal, pode então ser compreendido enquanto convite ao aprofundamento de conhecimentos específicos importantes ao manejo clínico que, além de pautado na ética, fundamenta o olhar para as peculiaridades existenciais da gravidez, parto e puerpério, sobretudo para a relação dessa mulher com seu corpo, com seu filho, com suas verdades, e com seus ideais de maternidade. Contudo, possivelmente devido ao caráter experiencial da Gestalt-terapia, ainda são poucas e recentes as obras científicas articulando-a ao fazer clínico na prática perinatal. Apreciar a perinatalidade pela perspectiva da Gestalt-terapia pode ser um importante caminho para fortalecer a importância de cuidar da relação dessa mulher com ela mesma e com todos que compõem seu campo existencial, destacando a relação com o bebê que vai ser elementar para ambos. Objetivo: Conhecer a prática de profissionais da Gestalt-terapia no período perinatal. Método: Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, com entrevistas semi-estruturadas, no modelo remoto, com duração média de uma hora, e que tiveram seus áudios gravados e transcritos, para posterior análise dos dados, com base na Análise Temática de Conteúdo proposta por Minayo. Aspectos Éticos: A pesquisa esteve em consonância com os princípios éticos da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética – CAAE: 52011121.6.0000.5569, Instituição Proponente: Ass. Educacional de Ciências da Saúde – AECISA. Resultados: Esta dissertação deu origem a dois produtos: Um artigo científico intitulado “Pensar-agir-sentir a maternidade – possibilidades de cuidado à luz da Gestalt-terapia”, destinado à Revistada Abordagem Gestáltica com Qualis/CAPES A2, e uma cartilha sobre o manejo clínico de psicólogos, voltado às questões psicológicas da perinatalidade, à luz da Gestalt-terapia, que embasa e amplia o trabalho psicoterápico, a ser distribuída para profissionais e estudante de psicologia que se interessem pela temática. No período de outubro a novembro de 2021 foram entrevistadas cinco psicólogas, com faixa etária variante de 30 a 44 anos, com uma média de idade de 37,5 anos. O tempo de formação variou entre 06 e 19 anos, com uma média de 13 anos de formadas, sendo 02 mestres em psicologia, e as demais especialistas, atuantes em diferentes estados do Brasil, e que foram referenciadas a partir da divulgação de seus trabalhos em congressos, redes sociais, publicações e cursos sobre esta temática. Após a análise do discurso, foram encontrados três principais eixos narrativos. No primeiro as profissionais puderam livremente revisitar vivências profissionais e pessoais que culminaram no encontro com a Psicologia Perinatal, e assim foi percebido que todas as entrevistadas apresentaram motivação pessoal como estímulo para o aprofundamento nos estudos da perinatalidade. O segundo eixo trata da percepção dos momentos da maternidade, e períodos específicos da gestação em que costumam ter maior procura por seu trabalho, sendo uma importante correlação com o nicho de trabalho de cada uma, logo variava desde a tentativa de engravidar à depressão puerperal, ou ainda casos mais específicos como o luto perinatal. E na terceira e última categoria, foram trazidas articulação e compreensão do fazer clínico na perinatalidade à luz da Gestalt-terapia. Pela observação dos aspectos analisados, percebe-se que olhar para a maternidade pela perspectiva da Gestalt-terapia reafirma a importância de cuidar da mulher em seu campo existencial, a partir de uma relação dialógica direcionada ao fortalecimento e desenvolvimento de importantes recursos em sua psicodinâmica, que culminem em ajustamentos saudáveis. Este trabalho revelou, através da narrativa das entrevistadas, diferentes possibilidades de atuação do psicólogo perinatal, dentre eles o luto, o pré-natal psicológico, o trabalho com casais que tentam engravidar, além do cuidado integral durante o ciclo gravídico puerperal. Foram cinco formas tanto diferentes quanto congruentes, a respeito das possibilidades e potência do olhar gestáltico enquanto mobilizador da ação na vida e na profissão. Conclusão: Diante das várias reflexões que este estudo provocou, constatou-se que compreender fenomenologicamente os processos da perinatalidade se torna um diferencial na ampliação da consciência do vivido, daquilo que faz parte da realidade, como a percepção de si mesma, dos outros (o que inclui o feto/bebê), e do mundo no aqui-agora.