A creche, a família e os bebês: a função maternante das berçaristas e suas contribuições à constituição psíquica infantil

Abstract

RESUMO Introdução: Embora as creches estejam presentes há décadas em nossa sociedade, ainda são consideradas um objeto novo dentro da educação, sobretudo quando ampliamos o seu papel de cuidar e educar para o também de subjetivar. Percebe-se um aumento no número de creches e na procura por esse tipo de cuidado direcionado aos bebês. A cada dia se compreende a importância dos cuidados na primeira infância e das relações iniciais, as berçaristas da creche acabam por ocupar um lugar central, além dos pais, na constituição psíquica dos bebês. Objetivo: Analisar a função maternante das berçaristas e suas contribuições para a constituição psíquica dos bebês que frequentam a creche. Método: Pesquisa qualitativa, no âmbito da teoria psicanalítica. O público da pesquisa se constitui por mulheres da faixa etária de 21 a 59 anos, que atuavam como berçaristas numa creche pública com bebês de 4 a 18 meses de vida. Os dados foram coletados a partir de um questionário sociodemográfico, do questionário sobre as posições discursivas das educadoras de creche e de uma entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi realizada a partir da análise de conteúdo na modalidade temática por meio da qual pude realizar uma minuciosa observação e reflexão com base na teoria psicanalítica. Considerações éticas: A pesquisa seguiu as orientações da Resolução 510/16, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, da Faculdade Pernambucana de Saúde (AECISA), com CAAE: 18635219.9.0000.5569, parecer número 3.526.244. Resultados: Esta pesquisa resultou em três produtos, dois artigos sendo um destinado à revista Temas em Psicologia com Qualis/CAPES A2 e outro desenvolvido para a revista Psicologia em Pesquisa com Qualis/CAPES A2 e um produto institucional em forma de E-book, a fim de orientar como estruturar um berçário e suas rotinas, bem como indicar possíveis ações e intervenções para que esse espaço seja um ambiente propício à constituição psíquica dos bebês. A partir das entrevistas e suas análises, foram encontrados três grandes eixos temáticos. Funcionamento da creche foi o primeiro, referiu-se às rotinas, procedimentos e aos aspectos pedagógicos trazidos pelas berçaristas como fundamentais para a organização institucional e, também, profissional e emocional delas. O segundo eixo foi a função maternante, essa categoria foi subdividida em: relação berçarista-bebê e relação berçarista-mãe, no qual se pôde observar a atuação da função maternante se manifestando na relação da berçarista com o bebê e sendo essa favorecedora da constituição psíquica do mesmo. Foi observado ainda que essa função atuava também junto à mãe, quando as berçaristas empaticamente, compreendiam, escutavam e olhavam cada necessidade trazida por elas, mostrando-se disponíveis e solícitas, mas também colocando limites. O terceiro eixo versou sobre a relação berçarista-creche, quando as histórias de vida de cada entrevistada se entrelaçaram com a creche pesquisada e revelaram o encontro profissional, “a vocação”, segundo elas, de ser berçarista. Conclusões: Percebeu-se que o ambiente da creche se mostrou promissor quanto à promoção de saúde e à prevenção de doenças. Ao desempenhar a função maternante investindo suas ações em um cuidado pautado por um discurso subjetivante, as berçaristas foram despertadas para a percepção de que o seu papel na creche era muito mais complexo do que apenas o de cuidar e educar bebês. Era, sobretudo, o de fornecer condições para a constituição de seu psiquismo, possibilitando o advir do sujeito e o de ser complementar à função materna da contemporaneidade. Palavras-chaves: Educação Infantil; Creche; Desenvolvimento Infantil; Psicanálise.