Projeto terapêutico singular nos cuidados paliativos: vivencia da equipe multiprofissional em um hospital de referência

Abstract

Introdução: Para garantir o cuidado integral é necessário pensar constantemente em novas formas de agir em saúde, ou seja, pensar a própria forma de organização dos processos de trabalho dos serviços de saúde. Foi assim, que se pensou na implementação do Projeto Terapêutico Singular como ferramenta nos Cuidados Paliativos. Assim como no PTS, os cuidados paliativos precisam de uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar, mais especificamente que vise à qualidade de vida de pessoas em tratamento com doenças ameaçadoras da vida e de seus familiares. Objetivo: Compreender a vivência da equipe multiprofissional de saúde com o projeto terapêutico singular enquanto ferramenta na abordagem de pessoas em cuidados paliativos. Método: Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, cujos participantes foram 12 estudantes da Residência Multiprofissional em Saúde. O período do estudo foi de junho 2018 a março de 2020, tendo a coleta sido realizada em dezembro de 2018, no HUOC (Hospital Universitário Oswaldo Cruz) Residência Multiprofissional em Saúde da Universidade de Pernambuco, instituição de direito público, sediada na cidade do Recife-PE. Como instrumento de coleta de dados, foi usado o Grupo Focal, essa técnica acontece a partir da interação grupal, permitindo uma ampla problematização sobre um tema ou foco específico. O debate foi norteado por um roteiro de oito perguntas previamente estabelecido, contendo uma questão introdutória, uma pergunta de transição, cinco questões chave e uma pergunta de encerramento. O debate foi gravado, conforme autorização prévia de todas as participantes da pesquisa emitida pelo TCLE, transcrita e os dados analisados de acordo com a Técnica de Análise de Conteúdo Temática proposta por Minayo. A pesquisa atendeu as normas éticas preconizadas pela Resolução 510/16 do Conselho Nacional de Saúde tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do HUOC, vide CAAE número 00603018.2.0000.5192 e Parecer número 122253/2018. Resultados: Os dados da pesquisa serão apresentados em dois formatos. O primeiro refere-se a um artigo científico intitulado “Projeto Terapêutico Singular em Cuidados Paliativos: Vivência da Equipe de Residentes”, o qual será submetido à revista Psicologia: Teoria e Prática. O segundo produto trata-se de um guia prático com intuito de auxiliar profissionais de saúde que lidam com pessoas em cuidados paliativos. Participaram da pesquisa doze residentes do sexo feminino, residentes na cidade de Recife-PE, com idade variando entre 21 e 37 anos e média de idade de 29 anos. Com relação à formação das residentes, uma era fisioterapeuta, uma psicóloga, uma cirurgiã dentista, três enfermeiras, duas fonoaudiólogas, uma assistente social, duas terapeutas ocupacionais e uma farmacêutica. Três residentes haviam realizado a graduação em outros estados e apenas uma no interior do estado de Pernambuco. Oito das participantes estavam cursando o primeiro ano da residência (R1) e quatro o segundo ano (R2). A residente de nome fictício, Rosa Linda, 37 anos, nutricionista, havia realizado residência multiprofissional em saúde da família, anteriormente. Três residentes estavam casadas e nove denominaram-se solteiras. Apenas uma tinha filho e uma estava gestante. Quanto à religião, cinco definiram-se como católicas, quatro evangélicas e três afirmaram não possuir religião. As residentes que participaram da pesquisa foram identificadas por um codinome escolhido por elas, salvaguardando-as de possíveis desconfortos e preservando a fidedignidade das falas. A partir da transcrição e análise dos dados coletados no grupo focal foram estabelecidas cinco categorias de análise que serão apresentados, articulando com a literatura existente sobre a temática, a saber: 1) Interdisciplinaridade com foco na singularidade/multidimensionalidade; 2) Quatro dimensões do PTS em cuidados paliativos; 3) Equívoco e resistência das outras equipes: cuidados paliativos como finitude de vida e fracasso profissional; 4) Família, esclarecimento, qualidade de vida e frustrações; 5) Conhecimento entre as profissões. As falas evidenciaram um profundo conhecimento, por parte das residentes, sobre o conceito de PTS e sua contribuição como ferramenta nos cuidados paliativos. Outro aspecto, bastante evidenciado na fala das residentes, foi a falta de conhecimento por parte dos outros profissionais de saúde, sobre o conceito e importância dos cuidados paliativos, o que dificulta o trabalho da equipe, pois só são acionados quando o indivíduo em tratamento está no processo ativo de morte. Conclusão: Este estudo possibilitou à compreensão do Projeto Terapêutico Singular em Cuidados Paliativos na perspectiva da equipe multiprofissional em saúde de um programa de residência. Salienta-se o caráter inovador desta pesquisa, uma vez que existe pouca publicação sobre PTS em Cuidados Paliativos em hospital. Foram encontradas algumas contradições ou equívocos que ainda se pode encontrar na fala dos profissionais pesquisados, o que pode sugerir, uma vez que os CP, bem como PTS e provavelmente os tipos de equipes multiprofissionais, não são ensinados na graduação e essa lacuna pode está confundindo a própria equipe de CP, que acaba tendo que ser construída na prática. Além disso, por ter que lidar com profissionais que são de equipes multidisciplinares, a equipe de CP pode não ter tão claro que sua atuação deve ser interdisciplinar e não multidisciplinar, como as outras equipes. Foram apontadas as contribuições do PTS para os processos de trabalho da equipe de CP, tais como as quatro dimensões do PTS em CP, (física, neuropsíquica, social/familiar e espiritual) é organizada/trabalhada dentro das quatro etapas do PTS (definição de hipóteses, definição de metas, divisão de responsabilidades, reavaliação das metas). Foi identificado, também através do trabalho, a compreensão equivocada que as demais equipes do hospital tem sobre CP e a necessidade de integração entre essas equipes e a equipe de CP. Não obstante, por se tratar de uma pesquisa qualitativa com um pequeno grupo de sujeitos, não se pode generalizar os resultados. Desse modo, sugere-se novos estudos sobre esta temática, de modo que os familiares e pacientes que façam parte do PTS em cuidados paliativos possam ser ouvidos, como também estudos com os profissionais de outros serviços, de modo que a desinformação e o preconceito possam ser abrandados. Palavras-chave: PTS; Cuidados Paliativos; Residência; Equipe de Saúde, Equipe Multidisciplinar.