Repercussões da hospitalização de um filho na vivência dos irmãos que permanecem em casa: percepção de mães acompanhantes

Abstract

RESUMO Introdução: A infância constitui uma etapa sensível e estruturante do desenvolvimento humano e, quando atravessada por eventos como a hospitalização em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), pode desencadear impactos significativos na criança e em sua rede familiar. Além do sofrimento da criança internada e de seu acompanhante, geralmente, a mãe, emergem repercussões importantes sobre os irmãos que permanecem em casa, muitas vezes invisibilizados nas práticas institucionais. O afastamento da figura materna, a ruptura da rotina e a ausência de mediações simbólicas podem favorecer sentimentos de insegurança, tristeza e mudanças no comportamento. Nesse contexto, compreender a percepção das mães sobre as repercussões dessa experiência na vivência dos filhos que estão em casa torna-se fundamental para ampliar estratégias de acolhimento familiar. Para isto, o estudo fundamenta-se na perspectiva relacional e ampliada da Psicologia Hospitalar, que compreende o adoecimento como uma experiência que atravessa todo o núcleo familiar, exigindo práticas de cuidado integradoras e sensíveis às relações afetivas. Objetivo: Analisar a percepção de mães acompanhantes sobre as repercussões da hospitalização de um filho em UTIP na vivência do(s) irmão(s) que permanece(m) em casa. Método: Estudo qualitativo realizado em hospital-escola de referência em Recife (PE). Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com mães acompanhantes de crianças internadas em UTIP; a definição do número de participantes seguiu o critério de saturação teórica. As falas foram submetidas à Análise de Conteúdo Temática de Minayo. Aspectos éticos: Pesquisa aprovada por Comitê de Ética (CAAE 80825924.2.0000.5201), em conformidade com a Resolução CNS nº 510/2016. Resultados: Emergiram seis eixos: (1) motivo da hospitalização; (2) impacto na dinâmica familiar; (3) comunicação com os irmãos sobre a internação; (4) formas de contato entre irmãos; (5) mudanças comportamentais/emocionais nos irmãos que ficaram em casa; e (6) rede de apoio. As mães descreveram sentimentos de ausência e insegurança nos irmãos, além de regressões e dificuldades escolares; mediações simbólicas (videochamadas, conversas orientadas, pequenos rituais) atenuaram parte do sofrimento. Como desdobramento prático, foi elaborado o Protocolo de Estratégias para Fortalecimento do Vínculo entre Irmãos durante a Hospitalização em UTI Pediátrica, visando à inclusão sistemática dos irmãos no cuidado. Conclusão: A percepção materna evidencia sofrimento significativo entre os irmãos não hospitalizados e aponta a necessidade de práticas institucionais que os reconheçam como sujeitos de cuidado, ampliando a atuação da Psicologia Hospitalar para além do leito da criança internada. Palavras-chave: Família; Infância; Relações entre irmãos; Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica; Psicologia Hospitalar.