Efeitos da prática online de mindfulness na personalidade de insones adultos: um estudo de intervenção tipo antes e depois

Abstract

Introdução: O distúrbio de insônia se manifesta de modos e com causas diferentes, tendo como características psicofisiológicas algumas especificidades. Insones apresentam maiores índices de neuroticismo, internalização, perfeccionismo, desregulação emocional e predisposição individual para a hiperexcitação, fatores estes predisponentes e potencialmente perpetuadores da insônia. Os treinos de mindfulness, enquanto práticas metacognitivas da função atencional, tem se mostrado eficaz na diminuição da desregulação emocional, a qual faz parte do traço de neuroticismo da personalidade de insones em nível elevado. Objetivo: Avaliou as práticas de Mindfulness on-line sobre os traços de personalidade e de desregulação emocional de insones adultos. Também entregou dois produtos técnicos, sendo um artigo para publicação e um e-book, no intuito de promover a disseminação da importância do sono para a saúde da população geral. Método: Tratou-se de um estudo piloto experimental, do tipo antes e depois, com intervenções via remota e com amostra de provinda de todo o território brasileiro. Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) - Número do Parecer Consubstanciado do CEP 6.501.671, no qual foram selecionados todas e quaisquer pessoas que estavam de acordo com os critérios de inclusão do estudo. Na triagem inicial foram avaliadas 135 pessoas, 116 foram elegíveis para participar, restando 12 que se submeteram ao treinamento de 8 semanas de mindfulness e realizaram avaliações pré e pós-intervenções através dos instrumentos Questionário Sociodemográfico, escala Índice de Gravidade de Insônia (IGI), Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21), Questionário das Cinco Facetas de Mindfulness Versão Brasileira (FFMQ-BR), Inventário de Personalidade NEO Revisado (NEO-FFI-R) e o Questionário On-line de Regulação Emocional (QoRE – Bateria BOLIE). A coleta e intervenções se deram de forma remota, atendeu a todas as recomendações da resolução 510/16 da CONEP e o número de participantes se baseou no cálculo estatístico amostral. Resultados e discussão: O grupo de intervenção foi composto predominantemente por mulheres, com idade de 34 a 45 anos, casadas, com média de idade de 44 anos. No momento pré-intervenção, metade dos participantes fazia acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico, sendo a insônia e ansiedade o motivo mais frequente para os acompanhamentos (33,4%), seguido da depressão (22,2%). Ainda, observou-se que a maioria usava alguma medicação para aspectos emocionais (75,0%), não fez consulta a profissional do sono (58,3%), não fez tratamento para condição médica (66,7%) e usava medicação para alguma condição de saúde (58,3%). Quanto aos momentos pré e pós-intervenção, a amostra presentava nível moderado de IGI (41,7%), seguido de leve (33,3%) e grave (25,0%), passando a apresentar posteriormente nível leve ou moderado do IGI (ambos grupos com 33,3%), seguido das pessoas sem insônia (25,0%) e os que possui nível grave (8,4%). A maioria apresentava nível normal de depressão (58,3%), nível normal de ansiedade (50,0%) e nível normal de estresse (41,7%), após houve aumento da prevalência de participantes que apresentaram normalidade do nível de depressão (75,0%), do nível de ansiedade (66,7%) e do nível de estresse (66,7%). Quanto aos fatores da habilidade mindfulness, a prevalência de participantes com nível abaixo da média foram: observar (25,0%), descrever (50,0%), agir com atenção (50,0%), não julgar (75,0%), e não reagir (66,6%). Após a intervenção a prevalência da classificação abaixo da média passou a ser: observar (16,7%), descrever (41,7%), agir com atenção (50,0%), não julgar (66,6%), e não reagir (66,6%). Quanto a regulação emocional, verificou-se que a média do escore de regulação total (QoRE-T) nos participantes avaliados durante o momento pré-intervenção foi de 98,58 pontos, com desvio padrão de 9,45 pontos. Após a intervenção, houve um aumento significativo da média do escore para 106,00 pontos, com desvio padrão de 11,64 pontos (p-valor = 0,028), indicando aumento significativo da regulação emocional total após a realização da intervenção. Por fim, quanto os traços de personalidade, verificou-se que entre o momento pré e pós-intervenção houve diferença significativa apenas para o domínio neuroticismo (p-valor = 0,006), sendo encontrada uma redução do escore entre o momento pré-intervenção (66,67 pontos) e o momento pós-intervenção (61,58 pontos). Dentro do domínio neuroticismo, foi encontrada redução significativa do escore para os subdomínios: Ansiedade (p-valor = 0,010), Depressão (p-valor = 0,019), Embaraço (p-valor = 0,033) e Vulnerabilidade (p-valor = 0,013). Ainda, foi encontrada um aumento significativo no subdomínio confiança (p-valor = 0,002; 42,92 pontos no momento pré e 47,75 pontos no momento pós). Diante os resultados, percebeu-se que os treinos de mindfulness foram capazes de diminuir o nível do fator neuroticismo de personalidade das pessoas insones, da intensidade da insônia, dos níveis da ansiedade, depressão e estresse, concomitantemente ao aumento da regulação emocional e da habilidade mindfulness. Conclusão: Frente aos achados significativos, alguns desafios foram encontrados no percurso deste estudo. O número reduzido da amostra, ainda que baseado no cálculo amostral, não disponibilidade de alguns participantes inscritos nos dias e horários fixos pré-agendados para as intervenções e a dificuldade ou o não acesso às vias tecnológicas utilizadas no estudo por parte das pessoas com baixo nível socioeconômico, limitações tais que reduziram amplamente o número da amostra do estudo. Esses achados apresentam subsídios para que outros estudos mais robustos e longitudinais possam ser desenvolvidos. Palavras-chave: Insônia; Personalidade; Mindfulness.